“… a gente só queria ser feliz – e foi… “
Autor: Sergio França Page 4 of 13
… com quem fica o coração? Quem afina o violão? Quem é o vilão? Ninguém. É só você mesmo contra a sua própria sombra – e as sobras de futuros esquecidos, sucumbidos por passados que não passaram, que não passam, que não cessam… Deixa estar. Vai caminhar e ver o dia passar diferente – como se estivesse emoldurado pela janela de um trem que só anda sobre os trilhos. Viagem leve e tranquila mesmo com atritos de ferros. Deixar estar e vai ver o dia entardecer a mente e amolecer o corpo, derretendo geleiras de fel e solidão – como se o calor já não forjasse espadas para fincar nos campos de batalha da alma. Deixa estar e vai ver a vida passando, passando, como coletivo rumo ao um infinito onde espelhos refletem a luz que há em você e iluminam o túnel e o alento pro espírito. Deixa estar e sente que os lamentos saíram das garrafas e se dissiparam nos mares por onde bate o sol. Deixa estar e vai tentar alguma coisa nova pra fazer a vida nova de novo – pode começar com um ovo mexido no pão com café levado ao pé da cama, com cheiro de manhã de maçãs, que inflama e ninguém mais lembra ou reclama da lama que teve que varrer do coração… Estranha – e linda – terça-feira a maneira como o sol abraçou meu violão. Cordas novas: tensão. Sorte nova: tesão. Nem moço ou vilão, farol costeiro. Forasteiro de emoções sem data de validade… Deixa estar. Deixa estar…

… porque o mundo cabe num abraço. E isso basta. Pensamentos pulsando como as batidas do coração. Uma pausa para o comum aos lábios, uma verdade ao que é sublime aos sábios e uma causa que sempre talhou universos imensos em intensos… Movimento de mar no olhar e calor de vulcão na boca. Uma doce e louca vontade de ter vontade. Um silêncio sereno desses de não fazer nada além de ouvir o corpo respirar… Entre a dúvida e a dádiva um hiato de medo de sonhar em tempos que realizar doi mais que se lançar num deserto a própria sorte. A mente desagua, o corpo esquenta, o coração flui entre espaços e enlaços até a boca secar… Desertos incertos de jornadas cheias de vazios… A dúvida é a dádiva. Há mar no deserto. Amar no deserto.

Domingo elegante, caminhar leve, passos firmes. Alma de gigante como rios das vistas desaguando em oceanos no coração. O som da sombra remetia à uma certa cadência das malemolências de um passado destemido das maledicências do mundo surdo. Por isso, já foi ao fundo do poço umas poucas vezes – e chegou até soltar a corda e se esquecer dos caminhos de volta. Mas quando acorda, olha pro alto, sente a luz, agarra nuns fiapos de corda e escala… Quando saiu de lá provou do mais pronfundo amor. Tinha talhado com as próprias mãos o presente futuro em que teve coragem e disposição para se dar vários presentes e estar presente onde e quando lhe fizesse sorrir. Tinha ainda talhado nas mãos histórias que escreveu a sangue e suor, pois foi assim que regou os frutos sagrados do trabalho. Pés e espíritos cansados demais para uma mente sã, mas naquela altura já podia suportar muito mais do que sua fé era capaz de transformar. Tarde vã, de manhã sem café – ou cachaça – pro santo, só queria mesmo caminhar pelas ruas sem pensar tanto nas dores da vida. Acordou sorrindo pensando nas delícias da vida, fez um bom café – quente, gostoso, cheiroso, como uma boa mulher -, vestiu o seu melhor terno e saiu por aí pra encontrar uma bela e jovem donzela que cortejada todos os dias… a vida.

… uma simples fotografia. Domingo. Tulipas. O próximo quadro que irei pintar ou, talvez, um poema… Inspiração é a fonte pra respiração em tempos em que o que mais precisamos é respirar… Respirar … Respiramos e diariamente buscamos fontes de inspiração para as coisas… Agora, precisamos inspirar… e se inspirar… Começa a fotografar – pode ser com o celular mesmo… ah, e em preto e branco também, por favor. Pinta um quadro – ou as paredes de casa… Escreva uma carta pra alguém, pra você mesmo e abra daqui um tempo num futuro menos ansioso em dias mais presentes. Dê presentes. Esteja presente. Seja um presente… um presente de Deus! Agradeça por cada dia frio de chega e igualmente pelos dias de sol e suor. Aprenda com a solidão, descubra a solitude. Aceite que você pode ser tão especial a ponto de nem se ligar em tudo que poder ser e fazer… Seja um poema de domingo pra alguém. Tenha fé na grandeza das pequenas coisas da vida. A felicidade é simples. E viver é ter a dádiva de a cada dia poder inspirar… Respirar…

Uma sensação estranha e doce por perceber a vida num certo descompasso entre o tempo e o momento: o tempo parece estar passando no seu tempo; o momento padece em lembranças mais curtas. Estamos encontrando mais tempo pra coisas para as quais nunca tínhamos tempo – desde que chegou o momento de usar o tempo que se tinha a mais… Pára. Para pra pensar: para de pensar. Pensar é penar. Pensar é um étero viver sem saber onde se vai chegar… Quando se vai… Quando se vai estar… Precisamos perceber… Por que agora existe beleza onde parece nunca ter existido? Perceber… Dar ouvidos mais atentos a quem fala e olhos mais focados no que se vê… Não temos todo o tempo do mundo, pois até o mundo é finito; o tempo, não. O infiito é um momento qualquer que existe quando a gente encontra no tempo o instante em que a simplicidade se revela bela, nas coisas que nem sempre tivemos tempo pra perceber, ver, sentir, ouvir, falar… ser. Fluir. Flutuar. Planar. Voar… Insensata loucura essa doçura de divagar devagar como quem dança com a lucidez… Talvez, esta equação bruta de prever o voar de borboletas nessa disparidade de contexto e conceitos em que está o mundo – cheios de universos soltos, loucos, roucos de gritar por amanhãs… Somos universos onde o tempo e o momento se corrompem e se conjugam, como átomos em atrito… Bebemos desse licor de éter e, embriagados, buscamos o que ainda não encontramos…
Ser o tempo e estar no momento; estar no tempo e ser o momento. Só.

… fé. Não tinha mais desculpas que sustentassem a falta de tempo para ter um momento para refletir sobre as coisas que realmente importam na vida. A lida consumiu os dias coloridos. Os dias ficaram estranhos e sem cor, sem brisa, sem som… Existia, porém, uma força indescritível, capaz de quebrar e desfazer a mais rochosa das montanhas, de acalmar mares revoltos, apagar florestas em chamas e acalentar os ânimos vazios gritando por socorro… O mundo não precisava saber da sua dor, mas necessitava do seu amor, da sua paz, da sua capacidade de transformar o cinza em cor – e das cinzas flanar o fogo para aquecer corações com frio, com medo, pesados em pranto… Não sabia como e mesmo assim foi lá e fez. Estava mesmo desafortunado a acreditar no que não podia ver ou tocar. Podia sentir que as mil fúrias que assolaram e dilaceram tudo em que acreditava, já tinham passado… Sentiu uma brisa leve, suave, doce… Sentiu um medo bom diante da grandeza do que voltava a reconhecer – e novamente uma força indescritível que o fez sucumbir às próprias verdades, cerrar os olhos e sussurrar para sua alma… … Pai Nosso que estais no Céus…

… pausas. Precisamos de uma pausa pro café, para aquela viagem de trem… Apertar o “pause” nessa coisa Netflix que se tornou a nossa vida e correr até a cozinha para fazer uma pipoca ou colocar a mochila nas costas e correr atrás da viagem de trem, começar a aprender mais uma língua, um instrumento, um momento pra sentir o coração batendo no meio da bateria de uma escola de samba e respirar bem fundo no topo da montanha… Res-pi-rar e sentir o cheiro bom do café quente e das manhãs… Pausa. Deixa pra amanhã a dor. Hoje, agora, por hora, basta um café e um naco de queijo, um abraço e um sorriso de sol, uma lágrima com gosto de sal no meio de um beijo… E basta.

… é sobre seguir. Seguir em frente mesmo que a alma lamente as dores que causou para o coração. Seguir adiante mesmo que o corpo cansado já não responda mais à força da mente clamando a todo instante por superação. Uma estranha quarta-feira: a maneira como o sol abraçou seu violão, o seu olhar de desgosto, um gosto de mel e adeus no céu da boca, de saudade doce e louca, de voz rouca de gritos contidos, de quem berra dentro de um saco, de ferimentos remidos de memórias de amar, de cheiro de mar, de calor de sombras, de um jeito de olhar e não ver a vida acontecendo de forma tão ruim… Enfim, foi assim, de maneira estranha que em suas entranhas brotou um ódio sutil e repentino, que transformou o seu olhar de menino em aço vil, mas que sucumbiu à pena da sua própria dor logo nas primeiras lagrimas. Não foi sorte, nem descuido; foi, sim, um sacrifício de tentar e, talvez – quem sabe -, uma certa loucura de acreditar nos sentidos… do amor? Dor não tem valor. Não existe para quem não sente, nem para que a causa. De certo, já não sabia mais o que fazer. Era um luto silencioso e invisível só seu, duma quarta-feira de cinzas sem carnaval. Só vagou por entre ruas cinzas sem confetes em busca de almas em flor – porque no fundo ainda sentia que existiria amor ou um arco-íris e ouro. Toda a maratona é solitária para esses atletas das emoções. Buzinas, pressa sem destino, olhar e coração de menino esquecidos na gaveta, entre rascunhos a lápis… Não deu. Não deu, pensou. Doeu. Doeu – e ainda doi -, sentiu. Vai passar, sorriu. A vida não era mesmo para ser tão bonita assim. Atravessou a rua e se foi, carregando universos dentro de sí, mesmo se sentindo um grão… Quarta-feira, meio da semana, precisava continuar… Seguiu.

… e tem aqueles dias que tentam furtar a nossa paz… tentam.
Cerveja, futebol, churrasco, fliperama, bilhar, brilhar… Segue o jogo da vida, da lida… É vivendo e aprendendo a jogar mesmo – e a talhar essa arte muito requintada de meter um loco e tocar um lindo f_ _ _-se para tudo e todos que não fazem bem. Não tem nada de poesia nisso. Na-di-ca. É uma atitude simples, direta, reta, sem curvas, sem marcha ré. Seguimos, em sentidos opostos, dispostos a fazer valer o que tem que ser e o que realmente importa – porque a vida é uma só. Só. E isso basta. Não podemos permitir que nada e nem ninguém nos furte o tempo que podemos dedicar a coisas e pessoas que realmente importam e fazem uma diferença positiva em nossa vida. E isso precisa ser recíproco e verdadeiro. Em algum momento, no final do dia ou da vida, a gente vai perceber no calendário, no relógio, nos joelhos ou no espelho, o que realmente vale e valeu a pena… Com sorte – e uma memória boa – poderemos sentir a tranquilidade de ter tentado, o prazer de ter conseguido ou mesmo o arrependimento de ter desistido… Qual será a nossa sorte ou quando será a nossa morte, nunca saberemos… Entretanto, e hoje? E agora? Daqui a pouco não nos pertence, sabemos. Nem sempre a gente perde, nem sempre a gente vence; sempre a gente tenta. Tenta… Erra, acerta, mas tenta… Tenta mesmo quando desistir é uma tentação… Nunca. Não. Ação! Força no corpo, na mente, na alma e paz – muita paz! – no coração. Ah, e um lindo f_ _ _-se! E basta.
(Complete a frase e seja feliz!)
#Paz