Brincadeira de roda: roda de moda de viola ao pé da fogueira, dia de sexta-feira pra comer besteiras enquanto roda canais como quem folheia jornais com as mesmas notícias frescas. Roda, roda até cair de bunda no chão e rir que nem criança nessa dança das cadeiras que é vida, em que está na moda ser como a alegria de girassóis até encontrar aceitação na luz, mesmo sem (se) perceber. Luz de farol que roda além-mar até alcançar perdidos nas cidades e nas rodas de amigos, copos, carros, umbigos, corpos, ambíguos… Está na roda do jogo da verdade o desafio de responder à qualquer pergunta – ou a capacidade de saber todas as respostas. Roda a garrafa! Roda na mesa a aposta: quanto tempo ainda se tem para blefar? Roda ao som do carrossel da caixa de música, num lapso do silêncio que ecoa e roda o mundo junto com o choro de um bebê… Está no grito da incoerência de quem roda a roleta de emoções premiadas, numa ansiedade de redemoinhos, com o equilíbrio de um pião… Roda um filme ao contrário por arrependimento e rebobina tempos de outrora, senta em roda e reconta histórias – e depois devolve às prateleiras de coleções de memórias e poeiras, esquecidas… Roda a roleta russa de convicções e redundâncias. A mente roda como um furacão; os pensamentos, um tufão; as verdades, um ciclone. Roda o mundo em prosa pela rosa dos ventos em busca de sentido(s), pra onde aponta essa bússola com o coração na ponta da agulha… Roda mudo o ponteiro dos segundos com pouca corda e mais tempo, lento, calmo… Roda o moinho de cata vento que moeu grãos de trigo que a lida fez pão para dar vida e partilha à mesa, na ceia do artesão de tudo, que do nada fez o mundo, deu luz à escuridão, da natureza fez mãe, de onde do barro fez vasos na roda dessa olaria, pra água e vinho, pra flores e amores… Tudo e todo mundo num segundo roda pra reinventar a roda… da vida.
Autor: Sergio França Page 3 of 13

Entre enganos e descuidos, verdades infinitas pintam novos horizontes, sem acompanhar as formas das nuvens, nem as nuances do céu, da noite, nem anseios, nem futuros dilatando as pupilas… Sem vela, sem espera. Dias passam como coletivos cheios de gente indo e vindo, sempre voltando de algum lugar, sempre em busca de algo, sempre na espera de alguém, sempre a mercê de olhares estranhos de estranhos… Rumos diversos para universos inversos, onde destinos nem sempre são talhados e por vezes apenas acontecem, no suceder de uns de repentes, que nem sempre rimam com a vida: linda fingida de bandida para fugir; tela rabiscada de carvão a colorir; medo tingido de desejo por arder; fé blindada por batalhas a vencer; sonhos dissipados em planos de paixão; realidade na areia aos ventos da ilusão… Ida ali para voltar daqui a pouco. Logo ali mesmo… Muitos já partiram; uns não vão voltar. Alguns estão indo; outros, vão chegar. Tem quem está chegando e quem ainda vai chegar.

… rua nua, lua no chão brilhando no resto de chuva, pés no céu, num caminhar leve, de destino breve, feito de talvez para acontecer daqui a pouco: depois. Silenciosamente, passou mudo – em segundos – caminhou o mundo por labirintos, pensamentos densos, lentos, tensos, propensos a se tornarem verdades em palavras, loucuras em devaneios, emoções duras, dores sem cura, de deixar qualquer um louco por um cigarro, um trago, um afago – ou algo mais forte para lhe esquentar o peito e dar um jeito pelo menos uma vez naquele dia, naquela noite… Mais uma noite e nos segundos de relógios, açoites afoitos, na cadência do seu caminhar leve, breve… Depois era assim mesmo: cheio de vazios e caminhos. E um cigarro era pouco… Foi pouco, louco. Foi pouco. Foi…

Mil histórias, um destino
Muitos lugares, nenhum lar
Paixões perenes, um amor
Memórias feitas pra lembrar
O tempo passa, a vida voa
Não teve tempo de esperar
A esperança foi na frente
Abriu caminhos pra sonhar
Subiu montanhas sem destino
Saltou das pedras para o mar
Correu a pé pelos instintos
E viu a vida transformar
Quando a verdade fez sentido
Sentiu as pernas balançar
Não tinha medo do acaso
Pois já podia acreditar
Trilhou em paz o seu caminho
Venceu mil guerras sem lutar
Era só esse o seu destino
História escrita pra contar
Talhou na sorte o seu destino
Sentiu amor ao se encontrar
Amou com todo o coração
Viveu mil vidas para amar
Seguiu a fé pelos caminhos
Foi devagar sem divagar
Quão leve e belo o seu destino
De quem nasceu só para amar
Uma história, mil destinos
Muitos lugares em um lar
Lições eternas de amor
De quem nasceu para amar

Vivemos o amor tão estranho
Sofrimento é só dor sem cura
A infelicidade de depois…
… é dor agora!
Já são duas da manhã:
Esperando o amanhã,
Esperando o sol brilhar,
Esperando…
Esperando… você chegar.
Um lamento,
Mil tormentos:
Sonhar com você.
Acordar sem você..
Você se foi…
Agora, o depois:
Adeus!
Amém.

… a cidade amanhece, cafés, atrasos, boletos, boletins, nãos e sins – pecados e milagres se misturam e se versam. Silhueta nas sombras, cornetas no silêncio, cometas no átrio entre solidões imensas e mais intensas. Sinais, faróis, girassóis e silêncios. Dia de semana sem gana, sem grana, sem fama, sem o que fazer pra trazer mais vida pra essa lida. Amanhecer na cidade e romper solidões como sol rompe as frestas da janelas de leitos vazios, sem dores, sem solidão… Dia de semana sem muito mais do que a janela para abrir e um resto de sol para entrar…

Cinzas de fotografias,
queimando histórias pelo ar.
Cinzas de toda cidade,
de memórias de amar,
de cinzeiros de conversas,
de promessas de amor,
de celeiro de promessas,
saudades,
dor,
cinzas…
cor…

Lâmpadas elétricas – suspensas por um infinito de fios que se conectam. De onde vem a sua luz? A sua energia? Quais são as conexões que te dão força e luz? O nosso destino nós conduz por caminhos já escolhidos, dizem – mas ainda assim, é nossa a verdade de escolher por quais seguir e até onde e quando…e com quem… Pensando em cores e carnavais, temos, talvez, mais tempo para sermos mais e mais espaço para nós tornamos maiores e melhores. O tempo é um senhor aposentado ainda cheio das prioridades que nunca passam, sentando numa estação de trem observando um relógio gigante e as pessoas… passando O tempo que acendemos a luz da sala, a alegria na fala que clama por mais… Mais. Mais. Mais. Mais tempo para fazer coisas que, parecem-nos,, nunca tivemos tempo para fazer, para estar, para ser…

… lua cheia, luz vazia, rua fria em pleno calor. Primaveras se repetem em músicas do Tim – porque o melhor do amor é o que fica depois do fim: o próprio. As dores do mundo não cessam – e para algumas não há remédio além do tédio de esperar. Esperar… A vida, essa playlist cheia de alma – se acalma; amores e mares também e refletem as luzes… Estrelas, lâmpadas elétricas suspensas pelo infinito – e numa lágrima improvisada cabe um milhão de histórias em órbita da lua… Ah, a lua… A lua e eu…

… cinzas de fotografias, fumaças de histórias pelo ar. Cinza de toda a cidade, de memórias de amar, de cinzeiros de conversas, de promessas de mudar… A luta diária é bruta, como uma flor que resiste, insiste em alcançar o sol, cresce e suas raízes rompem entulho de coisas pra sobreviver. Pra sobreviver. A alma grita… em silêncio enquanto o tempo lentamente vai talhando marcas nas mãos e no peito. Foi feito de ferro; nunca foi caule de flor. Água e sol – e o sagrado fruto do trabalho -, era o que tinha e mantinha a força que lhe dava fé. Alma não tem cor – tem cores. No corpo, o cinza das cidades, de memórias, sem amor… dor. Fim de história: água e sol. Lutar por hoje; orar por amanhã.