Brincadeira de roda: roda de moda de viola ao pé da fogueira, dia de sexta-feira pra comer besteiras enquanto roda canais como quem folheia jornais com as mesmas notícias frescas. Roda, roda até cair de bunda no chão e rir que nem criança nessa dança das cadeiras que é vida, em que está na moda ser como a alegria de girassóis até encontrar aceitação na luz, mesmo sem (se) perceber. Luz de farol que roda além-mar até alcançar perdidos nas cidades e nas rodas de amigos, copos, carros, umbigos, corpos, ambíguos… Está na roda do jogo da verdade o desafio de responder à qualquer pergunta – ou a capacidade de saber todas as respostas. Roda a garrafa! Roda na mesa a aposta: quanto tempo ainda se tem para blefar? Roda ao som do carrossel da caixa de música, num lapso do silêncio que ecoa e roda o mundo junto com o choro de um bebê… Está no grito da incoerência de quem roda a roleta de emoções premiadas, numa ansiedade de redemoinhos, com o equilíbrio de um pião… Roda um filme ao contrário por arrependimento e rebobina tempos de outrora, senta em roda e reconta histórias – e depois devolve às prateleiras de coleções de memórias e poeiras, esquecidas… Roda a roleta russa de convicções e redundâncias. A mente roda como um furacão; os pensamentos, um tufão; as verdades, um ciclone. Roda o mundo em prosa pela rosa dos ventos em busca de sentido(s), pra onde aponta essa bússola com o coração na ponta da agulha… Roda mudo o ponteiro dos segundos com pouca corda e mais tempo, lento, calmo… Roda o moinho de cata vento que moeu grãos de trigo que a lida fez pão para dar vida e partilha à mesa, na ceia do artesão de tudo, que do nada fez o mundo, deu luz à escuridão, da natureza fez mãe, de onde do barro fez vasos na roda dessa olaria, pra água e vinho, pra flores e amores… Tudo e todo mundo num segundo roda pra reinventar a roda… da vida.