A saudade é um domingo entardecendo ao poucos, aos loucos de amor, aos roucos de gritar por amor, aos poucos a acreditar no amor… Qual é o real valor de um raio de sol para quem se esconde nas sombras? O que sacia um pão pra quem vive de migalhas? O que a fé faz transformar, ajuda ou atrapalha? Amor é dor? Dor é só dor? Qual o valor dessas lembranças tolas e silenciosas pondo a prova e de joelhos os nossos maiores medos? Segredos. Saudades. Maldade o dia entardecer assim…
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Cidade em dia de chuva e reflexão. Roupas molhadas, lágrimas de copos e corpos suados. Almas lutando só diante de verdades coletivas. Quintas intenções e corações em fogo. O jogo seria continuar apostando sem fichas como quem sabe que vai pagar mais caro pelo guarda chuva… Poucos perdem guarda sol. Lágrimas rolam das montanhas para os vales e lavam todos os males. Silêncio, vazio, quase frio… Choro rio e rio desse sol dessa noite triste, mas bonita… Vai chuva, buzinas – sorrio!

… pra onde iremos nós? Pra onde vão as chaves e sonhos que nos fizeram perder o sono? Pra onde vai a verdade em tempos de descrença? Pra onde vai o tempo que perdemos? Pra onde? A água que escorre no meio fio não tem destino certo. Passa um rio aos pés de um mar de gente pra desaguar num bueiro cheio de mágoas e bitucas de cigarro. Mais uma dose, um trago. Estrago certo, caminho incerto. Por perto, vidas esquecidas, fim de tarde, tempo cinza, meio frio… meio fio, cinzas, mágoas, cigarros acesos; almas apagadas. Vai chover, vem água – e o tempo passando… e levando quase tudo… Quase tudo.

… infinitas convenções conjungam num acaso – e isso já sabia. Duras ânsias conduzem para lugar nenhum, onde alguém que detém serenidade e sabedoria vende as respostas para às dúvidas de uma noite fria. A vida aposta corrida com o tempo, invisível como o vento passando no rosto exposto a poeira que levantou de estradas, as folhas que sucumbiram a outonos, a verdades sem dono… Talvez, numa outra sorte, no retorno reencontre caminhos por onde vendavais passaram e fúrias profundas e frias dilaceraram terras e se fundiram em trevas no seu coração. Não sentia mais. Sem poesias nas palavras; sem músicas no silêncio. Em segundos, viajou por universos cinzas e os coloriu enquanto tingiu as chuvas misturando as cores com vendavais – e mesmo assim, não sentia mais, não vivia mais, não queria mais… Vento tardio, vadio, esvaziou corações,varreu folhas em branco, partituras… Cem poesias nas palavras; cem músicas no silêncio. A vida é um adágio.

… pra onde iremos nós? Onde estão os silêncios de nossos pensamentos? O vácuo onde gritam as palavras que não dizemos? O breu de nossas mais profundas amarguras? A sombra de nossos piores medos? Os abraços trancados em fotos? As verdades que apostamos na loto? Para onde irão os nossos devaneios? Para as noites de tardes sem manhãs? Para onde os pecados se escondem em maçãs? Para onde os espelhos quebram? Onde os joelhos celebram penitências vãs? Para às cicatrizes onde as dores não cessam? Pra onde aponta o nosso olhar? Onde está a nossa luz? De onde vem essa crença bendita em resistir e insistir em buscar por caminhos?… Se perdeu na descrença rotineira de tardes de dias de semana; se encontrou nas dúvidas mais aburdas e tardias para uma vida vazia, vadia… Simplesmente seguiu. Um destino; uma alternativa: tentar.

… procuramos e não encontramos. Buscamos e não alcançamos. Tentamos; não conseguimos. Não depende do tempo, nem do vento. Dados lançados rolando a ladeira… Talvez, nesta – ou numa outra desventura qualquer – passaremos por degraus e veredas por onde vendavais traçaram novos caminhos, mil fúrias e lamúrias assolaram e dilaceraram possibilidades – porque as cidades aindam dormiam em cinzas no mais lindo alvorecer. Dia novo, novos rumos para qualquer destino menos atroz. Possibilidades…
Manhã de setembro. Acordou com uns sonhos comuns – até bobos, desses de qualquer biografia inventada que não mereça ser escrita. Nada de novo de novo. Uma vontade de gritar pra cidade tudo o que estava eclodindo nos seus pensamentos, como quem lança poemas ao vento buscando numa alma desavisada um alento. Vento. Um momento e silencio. Não era mais sobre sonhar ou realizar – e nunca foi sobre ganhar ou perder; sempre foi sobre resistir e não desistir. As dores vão, fica a razão, umas lágrimas e uma intensa vontade de gritar pra cidade onde tocam os sinos o que era sobreviver tentando… Sinos e sinas no clima das manhãs de setembro. Só.

Perdemos – e nos perdemos buscando encontrar perguntas que justifiquem as respostas em que acreditamos. Não temos pra onde ir e precisamos seguir mesmo assim desbravando emoções, pisando em ovos e corações. Nada passa mas passa a fazer sentido: ter sentido. Vivemos. Sentimos. Perdemos.

Vermelho. Sinal fechado, ficou parado vendo a vida passar. O recado no espelho cristalizado no olhar. Uma dor, uma tristeza nessa vida, uma vontade de chorar, um vazio de solidão, uma vontade de gritar… O sinal abriu e fechou – e abriu e fechou de novo. E ficou ali, parado. Talvez, precisasse sentar na calçada e conversar com alguém. Ficou parado ali. Ninguém nem aí pra sua dor. A cidade fica inerte diante das emoções que vertem dos sentidos e revestem o tempo de cinza. Silêncios sem cor, dores sem amor. E o sinal abriu… de novo.

… e entre tantos entretantos restaram apenas os danos, planos mil vezes refeitos, pratos desfeitos, sorrisos sem jeito esmaecendo certezas de que não demos mais certo. Por certo, nesta ou numa outra vida, hemos de ter a chance de desmanchar os laços e viver só no instante do enquanto dura um abraço. Enquanto o tempo passa, passamos. Passamos.