Cantava “minha vida é andar por esse país” e no coração ecoava “mas como eu não tenho ninguém eu levo a vida assim tão só. Em comum, aparentemente, todos nós só queremos um amor – ainda que seja mais fácil aprender a tocar sanfona.
Categoria: Letras

Tocou como nunca fizera antes, despertando uma paixao adormecida e empoeirada como um velho piano desafiado. Não existia mais silêncio no coração dela: pulsava forte e leve como um bumbo em desfile das campeãs. A neve nos cabelos já precipitava um certo desconcerto para amar de novo… Mas o coração – ah, o coração – não tava nem aí. A moça e o moço nunca se viram e se reconheceram quando ela tocou a música que o coração dele queria ouvir. E foi bonito de ver e ouvir…

Quis perder o ônibus. Não tinha bilhete, nem relógio, nem medo, nem vontade de voltar. Eram quase oito quando percebeu um relógio por perto e sentiu que a hora de ser feliz estava por despertar como alarme… E ele já tinha acordado do sonho e levantado da cama há muito tempo…

Ele gritou pra ela voltar.
Ela até pensou em ficar…
… mas fez que não ouviu, ignorou o coração e seguiu…
Foi embora e nunca mais voltou. Nunca mais.

… pareciam corações entrelaçados pulando o muro pra se encontrar…
mas…
… eram só arames farpados…
presos sobre um muro duro e alto…
…entre eu e você.
Meia-noite e cinco
Vamos embora ou perderemos o metrô.
(Chegou a hora do que era amor voltar a ser dor.)
Dor de saudade, dor que não passa
Passa metrô, passa. Passou.
E agora que já é tarde para viver o tempo que não tivemos para entender o que não sabíamos como que viria a ser.
Agora é. Agora tarde. Agora é triste. Agora é medo.
– Que maldade! Mas, amor não tem idade, não morre de velhice, não termina assim.
Não nasce, acontece. Não some, permanece. Não grita, enlouquece.
Não se esconde, nem se envaidece. Mente um pouco, finge de louco.
A noite passa e mais um metrô vem e você nem pensa em me deixar.
Vamos embora, dói mas vai passar, como outro metro que vai chegar e partir
Como outra partida de sinuca, como outra cerveja sobre a mesa.
Não vamos deixar esquentar – a cerveja, não. Quente só a cama, o chuveiro, o café.
Pois é. Mais um metro vai passar cheio de gente apressada e esquisita – e que não sabe do nosso amor, pois nunca entenderiam que até a nossa dor também é amor.
Amor que não passa como metro…