Gostava disso: partir sem ter planos. Sabia que podia voltar quando quisesse. Só não sabia o que encontraria pelos caminhos… E disso gostava ainda mais.
Autor: Sergio França Page 7 of 12

Sábado, sol, feira – quanta asneira fica no cache depois da sexta-feira: gosto de guarda-chuva na boca, serpentes na mente, flashbacks de gente e sons em tons abstratos em contato com o veneno que escorre para o coração. Envelhecer e ter boas histórias para lembrar e contar é um dom. A baladeira e a rezadeira nunca vão se encontrar para costurar uma colcha de retalhos e fotografias. O feirante grita e mexe com as moças bonitas enquanto o carteiro passa cheio de postais e boletos. O taxista faz fofoca e espera por clientes. Um velho lava o quintal; outro, alimenta os pombos. Quantos tombos até chegar alí só pra esperar pela morte – que sorte. Sábado, um dia qualquer e uma mulher decidi trair, um jovem decidi fugir e um cão reencontra o lar… Dia de feira, ontem foi sexta-feira e daqui a pouco já é carnaval.Tem resto de gente que a noite não tragou, latas no bolso do terno com traças, isqueiros e corpos que não funcionam… Passa mais um ônibus, um carroceiro, um cadeirante e um errante em busca de um táxi que o leve de volta para algum lugar… Sábado, não faz mal se ainda não encontrou alguém pra amar, dividir o tédio e escrever boas histórias… Não faz mal. Não-faz-mal.

Com ninguém. Coração fica na mão: batata quente, ouriço que secou na areia longe das ondas, barbante segurando a força do balão de ganhar céus, destino errante nas rédeas do peão no bordel, belezas ocultas sob véus, uma puta falta de vontade de sonhar, de voltar e crer no fim do arco-íris [e na verdade do brilho da iris]. Enfim, fica em vão, de peito vazio. Fica no chão entre cacos e saltos [altos] ao som de fim de festa – copos quebrados e pés descalços. Fica no vão entre as coisas que esquecemos e as que jamais esqueceremos – como lugares onde nunca mais voltamos, mas sabemos que [para] sempre estarão lá… Fica na vontade de revirar gavetas, libertar a caneta, o verbo, o credo, tretas e ter n’alguma coisa menos triste o destino em riste te esperando pra tentar – porque a vida é isso: todos os dias tentamos. Somos culpados, o tempo aponta o lápis para escrever outras linhas e na outra ponta não tem borracha. Porque essa rinha tinha que acabar. Agora, fica esse tal coração e uma lista de coisas para encaixotar.

… noites. Um açoite para as almas desavisadas que vagam pelos becos de corações vazios e escorrem pelo meio fio até desaparecerem lá longe – onde não se esconde -, surgindo e sumindo, como facho de luz dos carros dobrando a esquina. Que sina essa de quem sempre está em clima de festa, que deixa entrar pelas frestas a luz que corta as sombras da sua solidão. Que vida é essa de quem expressa andar de joelhos em busca de perdão por pecados que não cometeu – e que não são seus. A noite está cheia de pecados e isso é uma ilusão, como o perfume de copos quebrados curtidos de gin, corpos suados sobre lençóis molhados, corações perdidos em becos sem fim, almas despedaçadas varridas para o meio fio… Silêncios…

O sentido é sentir. Da vida, do caminho, da canção. Não tem mapa – só um tapa na maquiagem para deixar de bobagem e lembrar que o caminho não é só a dor e o suor de subir, mas é tambem o refresco e o descanso do chegar. O sentido é a vida – e da vida viver e merecer todos os dias cada um dos sorrisos e flores do caminho – e nunca estar só, nem no castigo, nem no estádio, nem no pó. O sentido é o caminho e o caminho está no caminhar, em cada passo, em cada laço (des)feito, na estação que ficou e no trem que seguiu. O sentido é a canção – o hiato escondido entre notas fluindo no rio beijando o mar. O sentido é amar, é ser o que se pode ser e fazer o que (não) pode – e eclode sem jeito no peito desatinado e rouco de gritar por socorro, como quem sobe o morro [da vida] buscando por um caminho cantando uma canção… Pára à sombra de uma árvore.
Sente.
Respira.
Observa.
Descansa.
Pensa num sentido para tudo o que tem sentido.
Canta.
Ama.
Rí.
Resignado, buscou encontrar um (re) significado para a vida – e pára, amor! Já chega! O destino trouxe de bandeja o que o tempo demorou demais por fazer. Agora, precisa crer no que lhe parece impossível: viver só, bater o pó da auto-estima, (re)encontrar a rima que combina com o compasso do seu coração, (re)conhecer a mina e seus laços vermelhos – de batom no espelho borrado de declaração de amor -, (re)definir o valor de cada segundo nesse mundo imundo inundado de flores, (re)combinar as cores e os atos, (re)equilibrar os pratos e seguir caminhando nessa corda bamba que todo amador desafia cruzar… Recolher as peças de Lego, inflar [um pouco] o ego, tirar as chuteiras do prego e recomeçar. O mundo agora é o seu lar. Ele vai encontrar uma dor maior que essa depois, talvez, só pra esquecer… Só pra esquecer… Só.

Resignado, buscou encontrar um (re) significado para a vida – e pára, amor! Já chega! O destino trouxe de bandeja o que o tempo demorou demais por fazer. Agora, precisa crer no que lhe parece impossível: viver só, bater o pó da auto-estima, (re)encontrar a rima que combina com o compasso do seu coração, (re)conhecer a mina e seus laços vermelhos – de batom no espelho borrado de declaração de amor -, (re)definir o valor de cada segundo nesse mundo imundo inundado de flores, (re)combinar as cores e os atos, (re)equilibrar os pratos e seguir caminhando nessa corda bamba que todo amador desafia cruzar… Recolher as peças de Lego, inflar [um pouco] o ego, tirar as chuteiras do prego e recomeçar. O mundo agora é o seu lar. Ele vai encontrar uma dor maior que essa depois, talvez, só pra esquecer… Só pra esquecer… Só.

Enfim, chegou ao fim, mas ainda sentia o perfume e tinha o costume de acordar e admirar o sol nascer naquele olhar. Guardou os sonhos e de vez em quando sonhava os planos, Fim. Chegou o fim. Sabia que não tinha volta, mas se esqueceu a esperar, como barco ancorado na areia que nunca navegou por outro mar. Acabou. Sabia que era esse seu cruel desterro, como farol trancado numa ilha que nunca mais brilhou… Nunca mais.

A questão era e sempre foi uma só: ir. Foi, mas não deixou partir. Ousou dizer adeus. Deixou um pouco de sí e levou pedaços quando desfez os laços que criou e deixou flâmular na brisa mais tenra. Foi. Estava cansado de não ter razão de estar. Queria detestar viver assim, mas não conseguiu, pois seria como remar num rio sem margens – e isso já era demais para a sua linhagem revestida de bravura. O tempo cura. Foi e nem olhou para o mapa, nem lembrou do tapa, só deixou o rastro da capa no chão, o pulso do coração na mão, a lembrança do caminho que nunca cruzou, do ninho que não o acolheu. Foi tudo ilusão, então? Viagem sem destino, (des)aventuras, luzes e mente no vermelho. Destino atroz, um trem veloz vai chegar para estancar seus pensamentos, laços desfeitos… Foi.

São ciclos. Começam onde terminam – e quando se vê, recomeçam. Talvez, no meio d’algum desses você esteja pensando nas vezes que seguiu em frente por estradas que não lhe pertenciam – e ficou mais forte; ou das vezes que desistiu e partiu mesmo sem rumo, sem plumo, planando como pluma ao sabor do vento, lento, brisa leve, breve como a vida de uma pipoca, como sopro de um bebê antes do primeiro choro, como assopro sobre a chama das velas do bolo de aniversário, como assobio pra moça faceira atravessando a rua de saia e cabelo samambaia, como fôlego de amantes sob a lua, como suspiro derradeiro no leito, como silêncio de um coração no peito… Partiu. Andou por caminhos em desalinho, como equilibrista na corda meio bamba, como quem pára no tempo [respira] e declina diante das (re)possibilidades de ser feliz e fazer o que sempre quis… Há quem alimenta pombos na praça e faz pirraça com o tempo – porque a vida parece pipoca: ploc!