O necessário e um pouco mais.

Autor: Sergio França Page 5 of 12

Aluga-se

… as luzes da cidade iluminam a bondade e a maldade e toda a dualidade que existe e insiste em discernir o lado A do lado B, distinguindo o eu de você de você mesmo pro mundo. Um absurdo não conter o que se deseja saber do que se busca sentir. É como mentir sobre ser; como parecer ter o que nunca se viu; falar sobre o que nunca ouviu; crer naquilo que não se toca, mas invoca a presença. Licença, que não se apague a luz dessa noite. É hora de (des)amar. É momento de estar onde existe um ponto de luz nessa escuridão: você no centro no estádio vazio – uma solitude na solidão. Aluga-se um coração. Tratar aqui.

Outonos

… folhas secas de outono, de abandono. Lugares, mares, anseios e solidões. Sim, acabou, enfim o fim chegou ao fim. Talvez, ainda sonhe os planos – pois nem tudo acaba em desengano. Pode ser que ainda exista, sim, aquele alvorecer no olhar, um perfume de manhãs, de maçãs, de movimento de mar… Sim, acabou e não tem vollta, não tem sobra nem sombra. Assombra pensar nas voltas do mundo, que a vida dá, mil navios e mil mares para encontrar a areia e encalhar. Sabia, por fim, que seria como farol para suportar a força das águas revoltas, se manter firme na rocha fria, iluminando perdidos no perigo das incertezas da escuridão… Ainda tinha uma força indescritível de mar de talhar rochas e sucumbir navios dentro de si e sempre que sentia a vida em brisa, em brasa, sabia que, enfim, podia amar como o sol… Enfim.

Domingo

A saudade é um domingo entardecendo ao poucos, aos loucos de amor, aos roucos de gritar por amor, aos poucos a acreditar no amor… Qual é o real valor de um raio de sol para quem se esconde nas sombras? O que sacia um pão pra quem vive de migalhas? O que a fé faz transformar, ajuda ou atrapalha? Amor é dor? Dor é só dor? Qual o valor dessas lembranças tolas e silenciosas pondo a prova e de joelhos os nossos maiores medos? Segredos. Saudades. Maldade o dia entardecer assim…

Chuva

Cidade em dia de chuva e reflexão. Roupas molhadas, lágrimas de copos e corpos suados. Almas lutando só diante de verdades coletivas. Quintas intenções e corações em fogo. O jogo seria continuar apostando sem fichas como quem sabe que vai pagar mais caro pelo guarda chuva… Poucos perdem guarda sol. Lágrimas rolam das montanhas para os vales e lavam todos os males. Silêncio, vazio, quase frio… Choro rio e rio desse sol dessa noite triste, mas bonita… Vai chuva, buzinas – sorrio!

Água

… pra onde iremos nós? Pra onde vão as chaves e sonhos que nos fizeram perder o sono? Pra onde vai a verdade em tempos de descrença? Pra onde vai o tempo que perdemos? Pra onde? A água que escorre no meio fio não tem destino certo. Passa um rio aos pés de um mar de gente pra desaguar num bueiro cheio de mágoas e bitucas de cigarro. Mais uma dose, um trago. Estrago certo, caminho incerto. Por perto, vidas esquecidas, fim de tarde, tempo cinza, meio frio… meio fio, cinzas, mágoas, cigarros acesos; almas apagadas. Vai chover, vem água – e o tempo passando… e levando quase tudo… Quase tudo.

Adágio

… infinitas convenções conjungam num acaso – e isso já sabia. Duras ânsias conduzem para lugar nenhum, onde alguém que detém serenidade e sabedoria vende as respostas para às dúvidas de uma noite fria. A vida aposta corrida com o tempo, invisível como o vento passando no rosto exposto a poeira que levantou de estradas, as folhas que sucumbiram a outonos, a verdades sem dono… Talvez, numa outra sorte, no retorno reencontre caminhos por onde vendavais passaram e fúrias profundas e frias dilaceraram terras e se fundiram em trevas no seu coração. Não sentia mais. Sem poesias nas palavras; sem músicas no silêncio. Em segundos, viajou por universos cinzas e os coloriu enquanto tingiu as chuvas misturando as cores com vendavais – e mesmo assim, não sentia mais, não vivia mais, não queria mais… Vento tardio, vadio, esvaziou corações,varreu folhas em branco, partituras… Cem poesias nas palavras; cem músicas no silêncio. A vida é um adágio.

Destino

… pra onde iremos nós? Onde estão os silêncios de nossos pensamentos? O vácuo onde gritam as palavras que não dizemos? O breu de nossas mais profundas amarguras? A sombra de nossos piores medos? Os abraços trancados em fotos? As verdades que apostamos na loto? Para onde irão os nossos devaneios? Para as noites de tardes sem manhãs? Para onde os pecados se escondem em maçãs? Para onde os espelhos quebram? Onde os joelhos celebram penitências vãs? Para às cicatrizes onde as dores não cessam? Pra onde aponta o nosso olhar? Onde está a nossa luz? De onde vem essa crença bendita em resistir e insistir em buscar por caminhos?… Se perdeu na descrença rotineira de tardes de dias de semana; se encontrou nas dúvidas mais aburdas e tardias para uma vida vazia, vadia… Simplesmente seguiu. Um destino; uma alternativa: tentar.

Desperto

… procuramos e não encontramos. Buscamos e não alcançamos. Tentamos; não conseguimos. Não depende do tempo, nem do vento. Dados lançados rolando a ladeira… Talvez, nesta – ou numa outra desventura qualquer – passaremos por degraus e veredas por onde vendavais traçaram novos caminhos, mil fúrias e lamúrias assolaram e dilaceraram possibilidades – porque as cidades aindam dormiam em cinzas no mais lindo alvorecer. Dia novo, novos rumos para qualquer destino menos atroz. Possibilidades…

Manhãs

Manhã de setembro. Acordou com uns sonhos comuns – até bobos, desses de qualquer biografia inventada que não mereça ser escrita. Nada de novo de novo. Uma vontade de gritar pra cidade tudo o que estava eclodindo nos seus pensamentos, como quem lança poemas ao vento buscando numa alma desavisada um alento. Vento. Um momento e silencio. Não era mais sobre sonhar ou realizar – e nunca foi sobre ganhar ou perder; sempre foi sobre resistir e não desistir. As dores vão, fica a razão, umas lágrimas e uma intensa vontade de gritar pra cidade onde tocam os sinos o que era sobreviver tentando… Sinos e sinas no clima das manhãs de setembro. Só.

Ressentido

Perdemos – e nos perdemos buscando encontrar perguntas que justifiquem as respostas em que acreditamos. Não temos pra onde ir e precisamos seguir mesmo assim desbravando emoções, pisando em ovos e corações. Nada passa mas passa a fazer sentido: ter sentido. Vivemos. Sentimos. Perdemos.

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