O necessário e um pouco mais.

Mês: setembro 2019

Sinfonia

Não tava nem aí. Sol da noite, flor da noite. Sorriu sob a sorte dos segundos de relógio digitais, passou um dia bem estranho para terminar assim, numa noite tão linda… Um jeito simples no olhar e no caminhar sinalizavam uma certa vontade de parar num bar desses com mesas na calçada, sentar, pedir uma cerveja e decidir sobre a vida até o horário do último coletivo. Um dia de semana qualquer, só mais um, nada de especial além do fato de que naquele instante sucumbiu à uma incontrolável vontade de mudar as coisas. E resolveu começar logo pela vida mesmo, como quem formata um computador, sem cópia de segurança. Muitas andanças se deram até chegar ali, naquele bar, naquele segundo copo, naquele corpo descansado de tantos espelhos, mas com um olhar atento para perceber o melhor da vida. Passa um casal feliz, um cão esperto atravessa a rua desviando do malabarista no sinal. Umas notícias esquisitas na banca de jornal. No entanto, já estava talhada pelas coisas que o mundo faz pra ser notícia no jornal. Pediu outra, agora mais gelada. Sorriu discretamente pra si e agradeceu pra alguém erguendo o copo naquele espaço entre o seu sorriso e o mundo… Enfim, encontrou, meio àquela sinfonia urbana, entre faróis e lençóis, o seu momento de paz.

Insídia

O que é a espera para quem espera por quem não vem? O que nos tornamos quando esperamos por coisas que não vão acontecer? Alguém já sabe o que há de ser da espera, tanta, e desse tempo que passa sem respeitar o que sentimos. E qual seria o sentido dessas tantas esperas que cultivamos nesta – ou numa outra – vida? Esperamos pelo amor, nunca pela dor da falta. Esperamos pelos gritos de gol, jamais pelas vaias da derrota. Esperamos um bater na porta de inesperada visita boa de fim de tarde, com café e boa conversa, mas nunca estaremos preparados para quem toca a campanhia e sai correndo…

Esperamos por outra(s) vida(s) e nem sempre percebemos que os cinco minutos seguintes já não nos pertence mais. Esperamos uma música de rádio nos trazer lembranças de quem está distante nos pegar de supresa, mas jamais esperamos pela grata surpresa desse alguém aparecer no portão ou mandar um cartão postal… Esperamos. Esperamos pela mensagem na garrafa que cruza oceanos, nem sempre por um abraço. Esperamos por perdão, pelo trem, por tardes de sol e chuva em dias de casamentos. Esperamos por trocas, esse escambo de vontades e emoções, no entanto nunca sabemos negociar com o tempo. O tempo que não espera a nossa espera; passa. Passou. Passará… Esperamos a vida inteira por pessoas, coisas, situações, histórias… que não vêm, nunca virão.

E uma certa saudade encosta e nos faz companhia… e o tempo, ri.

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