O necessário e um pouco mais.

Ano: 2019 Page 1 of 2

Quarta

… é sobre seguir. Seguir em frente mesmo que a alma lamente as dores que causou para o coração. Seguir adiante mesmo que o corpo cansado já não responda mais à força da mente clamando a todo instante por superação. Uma estranha quarta-feira: a maneira como o sol abraçou seu violão, o seu olhar de desgosto, um gosto de mel e adeus no céu da boca, de saudade doce e louca, de voz rouca de gritos contidos, de quem berra dentro de um saco, de ferimentos remidos de memórias de amar, de cheiro de mar, de calor de sombras, de um jeito de olhar e não ver a vida acontecendo de forma tão ruim… Enfim, foi assim, de maneira estranha que em suas entranhas brotou um ódio sutil e repentino, que transformou o seu olhar de menino em aço vil, mas que sucumbiu à pena da sua própria dor logo nas primeiras lagrimas. Não foi sorte, nem descuido; foi, sim, um sacrifício de tentar e, talvez – quem sabe -, uma certa loucura de acreditar nos sentidos… do amor? Dor não tem valor. Não existe para quem não sente, nem para que a causa. De certo, já não sabia mais o que fazer. Era um luto silencioso e invisível só seu, duma quarta-feira de cinzas sem carnaval. Só vagou por entre ruas cinzas sem confetes em busca de almas em flor – porque no fundo ainda sentia que existiria amor ou um arco-íris e ouro. Toda a maratona é solitária para esses atletas das emoções. Buzinas, pressa sem destino, olhar e coração de menino esquecidos na gaveta, entre rascunhos a lápis… Não deu. Não deu, pensou. Doeu. Doeu – e ainda doi -, sentiu. Vai passar, sorriu. A vida não era mesmo para ser tão bonita assim. Atravessou a rua e se foi, carregando universos dentro de sí, mesmo se sentindo um grão… Quarta-feira, meio da semana, precisava continuar… Seguiu.

Jogo

… e tem aqueles dias que tentam furtar a nossa paz… tentam.
Cerveja, futebol, churrasco, fliperama, bilhar, brilhar… Segue o jogo da vida, da lida… É vivendo e aprendendo a jogar mesmo – e a talhar essa arte muito requintada de meter um loco e tocar um lindo f_ _ _-se para tudo e todos que não fazem bem. Não tem nada de poesia nisso. Na-di-ca. É uma atitude simples, direta, reta, sem curvas, sem marcha ré. Seguimos, em sentidos opostos, dispostos a fazer valer o que tem que ser e o que realmente importa – porque a vida é uma só. Só. E isso basta. Não podemos permitir que nada e nem ninguém nos furte o tempo que podemos dedicar a coisas e pessoas que realmente importam e fazem uma diferença positiva em nossa vida. E isso precisa ser recíproco e verdadeiro. Em algum momento, no final do dia ou da vida, a gente vai perceber no calendário, no relógio, nos joelhos ou no espelho, o que realmente vale e valeu a pena… Com sorte – e uma memória boa – poderemos sentir a tranquilidade de ter tentado, o prazer de ter conseguido ou mesmo o arrependimento de ter desistido… Qual será a nossa sorte ou quando será a nossa morte, nunca saberemos… Entretanto, e hoje? E agora? Daqui a pouco não nos pertence, sabemos. Nem sempre a gente perde, nem sempre a gente vence; sempre a gente tenta. Tenta… Erra, acerta, mas tenta… Tenta mesmo quando desistir é uma tentação… Nunca. Não. Ação! Força no corpo, na mente, na alma e paz – muita paz! – no coração. Ah, e um lindo f_ _ _-se! E basta.
(Complete a frase e seja feliz!)
#Paz

Sinfonia

Não tava nem aí. Sol da noite, flor da noite. Sorriu sob a sorte dos segundos de relógio digitais, passou um dia bem estranho para terminar assim, numa noite tão linda… Um jeito simples no olhar e no caminhar sinalizavam uma certa vontade de parar num bar desses com mesas na calçada, sentar, pedir uma cerveja e decidir sobre a vida até o horário do último coletivo. Um dia de semana qualquer, só mais um, nada de especial além do fato de que naquele instante sucumbiu à uma incontrolável vontade de mudar as coisas. E resolveu começar logo pela vida mesmo, como quem formata um computador, sem cópia de segurança. Muitas andanças se deram até chegar ali, naquele bar, naquele segundo copo, naquele corpo descansado de tantos espelhos, mas com um olhar atento para perceber o melhor da vida. Passa um casal feliz, um cão esperto atravessa a rua desviando do malabarista no sinal. Umas notícias esquisitas na banca de jornal. No entanto, já estava talhada pelas coisas que o mundo faz pra ser notícia no jornal. Pediu outra, agora mais gelada. Sorriu discretamente pra si e agradeceu pra alguém erguendo o copo naquele espaço entre o seu sorriso e o mundo… Enfim, encontrou, meio àquela sinfonia urbana, entre faróis e lençóis, o seu momento de paz.

Insídia

O que é a espera para quem espera por quem não vem? O que nos tornamos quando esperamos por coisas que não vão acontecer? Alguém já sabe o que há de ser da espera, tanta, e desse tempo que passa sem respeitar o que sentimos. E qual seria o sentido dessas tantas esperas que cultivamos nesta – ou numa outra – vida? Esperamos pelo amor, nunca pela dor da falta. Esperamos pelos gritos de gol, jamais pelas vaias da derrota. Esperamos um bater na porta de inesperada visita boa de fim de tarde, com café e boa conversa, mas nunca estaremos preparados para quem toca a campanhia e sai correndo…

Esperamos por outra(s) vida(s) e nem sempre percebemos que os cinco minutos seguintes já não nos pertence mais. Esperamos uma música de rádio nos trazer lembranças de quem está distante nos pegar de supresa, mas jamais esperamos pela grata surpresa desse alguém aparecer no portão ou mandar um cartão postal… Esperamos. Esperamos pela mensagem na garrafa que cruza oceanos, nem sempre por um abraço. Esperamos por perdão, pelo trem, por tardes de sol e chuva em dias de casamentos. Esperamos por trocas, esse escambo de vontades e emoções, no entanto nunca sabemos negociar com o tempo. O tempo que não espera a nossa espera; passa. Passou. Passará… Esperamos a vida inteira por pessoas, coisas, situações, histórias… que não vêm, nunca virão.

E uma certa saudade encosta e nos faz companhia… e o tempo, ri.

Mente

… a vida é bonita. Palco cheio de sorrisos. Nos pés descalços, perfume de talco com cheiro de lembranças de infância. Som vibrando como água fervendo. Olhos de coruja em noite de lua cheia no azul mais frio. Peito em festa; nos olhos um rio. O que não presta sai, o que é bom encontra uma fresta, entra e fica. Ouvir o que não conseguimos ver; sentir o que não conseguimos ouvir. Falar e chorar pouco; rir, sorrir, sempre. Mente pra mente que ela acredita e engana o coração – e faz ele se divertir.

Feliz

eu só tentei ser feliz; eu, só, tentei ser feliz.

Esquinas, sinas, sinos da meia noite de mais um dia de neblina no coração. Pensamento lento livre igual um sabiá. Quantos mistérios até te encontrar? Nas esquinas da cidade ou sina de viver de de repente. Era mais fácil ser feliz. Seria mais lógico, mais provável, talvez, até, inevitável… mas a vida – ou o destino (atroz) – não quis. Mais uma última canção, mais uma saideira, mais uma explicação para o inexplicável.
Me diz o que eu fiz: eu só tentei ser feliz; eu, só, tentei ser feliz.

Aluga-se

… as luzes da cidade iluminam a bondade e a maldade e toda a dualidade que existe e insiste em discernir o lado A do lado B, distinguindo o eu de você de você mesmo pro mundo. Um absurdo não conter o que se deseja saber do que se busca sentir. É como mentir sobre ser; como parecer ter o que nunca se viu; falar sobre o que nunca ouviu; crer naquilo que não se toca, mas invoca a presença. Licença, que não se apague a luz dessa noite. É hora de (des)amar. É momento de estar onde existe um ponto de luz nessa escuridão: você no centro no estádio vazio – uma solitude na solidão. Aluga-se um coração. Tratar aqui.

Outonos

… folhas secas de outono, de abandono. Lugares, mares, anseios e solidões. Sim, acabou, enfim o fim chegou ao fim. Talvez, ainda sonhe os planos – pois nem tudo acaba em desengano. Pode ser que ainda exista, sim, aquele alvorecer no olhar, um perfume de manhãs, de maçãs, de movimento de mar… Sim, acabou e não tem vollta, não tem sobra nem sombra. Assombra pensar nas voltas do mundo, que a vida dá, mil navios e mil mares para encontrar a areia e encalhar. Sabia, por fim, que seria como farol para suportar a força das águas revoltas, se manter firme na rocha fria, iluminando perdidos no perigo das incertezas da escuridão… Ainda tinha uma força indescritível de mar de talhar rochas e sucumbir navios dentro de si e sempre que sentia a vida em brisa, em brasa, sabia que, enfim, podia amar como o sol… Enfim.

Domingo

A saudade é um domingo entardecendo ao poucos, aos loucos de amor, aos roucos de gritar por amor, aos poucos a acreditar no amor… Qual é o real valor de um raio de sol para quem se esconde nas sombras? O que sacia um pão pra quem vive de migalhas? O que a fé faz transformar, ajuda ou atrapalha? Amor é dor? Dor é só dor? Qual o valor dessas lembranças tolas e silenciosas pondo a prova e de joelhos os nossos maiores medos? Segredos. Saudades. Maldade o dia entardecer assim…

Chuva

Cidade em dia de chuva e reflexão. Roupas molhadas, lágrimas de copos e corpos suados. Almas lutando só diante de verdades coletivas. Quintas intenções e corações em fogo. O jogo seria continuar apostando sem fichas como quem sabe que vai pagar mais caro pelo guarda chuva… Poucos perdem guarda sol. Lágrimas rolam das montanhas para os vales e lavam todos os males. Silêncio, vazio, quase frio… Choro rio e rio desse sol dessa noite triste, mas bonita… Vai chuva, buzinas – sorrio!

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