… infinitas convenções conjungam num acaso – e isso já sabia. Duras ânsias conduzem para lugar nenhum, onde alguém que detém serenidade e sabedoria vende as respostas para às dúvidas de uma noite fria. A vida aposta corrida com o tempo, invisível como o vento passando no rosto exposto a poeira que levantou de estradas, as folhas que sucumbiram a outonos, a verdades sem dono… Talvez, numa outra sorte, no retorno reencontre caminhos por onde vendavais passaram e fúrias profundas e frias dilaceraram terras e se fundiram em trevas no seu coração. Não sentia mais. Sem poesias nas palavras; sem músicas no silêncio. Em segundos, viajou por universos cinzas e os coloriu enquanto tingiu as chuvas misturando as cores com vendavais – e mesmo assim, não sentia mais, não vivia mais, não queria mais… Vento tardio, vadio, esvaziou corações,varreu folhas em branco, partituras… Cem poesias nas palavras; cem músicas no silêncio. A vida é um adágio.
Ano: 2018

… pra onde iremos nós? Onde estão os silêncios de nossos pensamentos? O vácuo onde gritam as palavras que não dizemos? O breu de nossas mais profundas amarguras? A sombra de nossos piores medos? Os abraços trancados em fotos? As verdades que apostamos na loto? Para onde irão os nossos devaneios? Para as noites de tardes sem manhãs? Para onde os pecados se escondem em maçãs? Para onde os espelhos quebram? Onde os joelhos celebram penitências vãs? Para às cicatrizes onde as dores não cessam? Pra onde aponta o nosso olhar? Onde está a nossa luz? De onde vem essa crença bendita em resistir e insistir em buscar por caminhos?… Se perdeu na descrença rotineira de tardes de dias de semana; se encontrou nas dúvidas mais aburdas e tardias para uma vida vazia, vadia… Simplesmente seguiu. Um destino; uma alternativa: tentar.

… procuramos e não encontramos. Buscamos e não alcançamos. Tentamos; não conseguimos. Não depende do tempo, nem do vento. Dados lançados rolando a ladeira… Talvez, nesta – ou numa outra desventura qualquer – passaremos por degraus e veredas por onde vendavais traçaram novos caminhos, mil fúrias e lamúrias assolaram e dilaceraram possibilidades – porque as cidades aindam dormiam em cinzas no mais lindo alvorecer. Dia novo, novos rumos para qualquer destino menos atroz. Possibilidades…
Manhã de setembro. Acordou com uns sonhos comuns – até bobos, desses de qualquer biografia inventada que não mereça ser escrita. Nada de novo de novo. Uma vontade de gritar pra cidade tudo o que estava eclodindo nos seus pensamentos, como quem lança poemas ao vento buscando numa alma desavisada um alento. Vento. Um momento e silencio. Não era mais sobre sonhar ou realizar – e nunca foi sobre ganhar ou perder; sempre foi sobre resistir e não desistir. As dores vão, fica a razão, umas lágrimas e uma intensa vontade de gritar pra cidade onde tocam os sinos o que era sobreviver tentando… Sinos e sinas no clima das manhãs de setembro. Só.

Perdemos – e nos perdemos buscando encontrar perguntas que justifiquem as respostas em que acreditamos. Não temos pra onde ir e precisamos seguir mesmo assim desbravando emoções, pisando em ovos e corações. Nada passa mas passa a fazer sentido: ter sentido. Vivemos. Sentimos. Perdemos.

Vermelho. Sinal fechado, ficou parado vendo a vida passar. O recado no espelho cristalizado no olhar. Uma dor, uma tristeza nessa vida, uma vontade de chorar, um vazio de solidão, uma vontade de gritar… O sinal abriu e fechou – e abriu e fechou de novo. E ficou ali, parado. Talvez, precisasse sentar na calçada e conversar com alguém. Ficou parado ali. Ninguém nem aí pra sua dor. A cidade fica inerte diante das emoções que vertem dos sentidos e revestem o tempo de cinza. Silêncios sem cor, dores sem amor. E o sinal abriu… de novo.

… e entre tantos entretantos restaram apenas os danos, planos mil vezes refeitos, pratos desfeitos, sorrisos sem jeito esmaecendo certezas de que não demos mais certo. Por certo, nesta ou numa outra vida, hemos de ter a chance de desmanchar os laços e viver só no instante do enquanto dura um abraço. Enquanto o tempo passa, passamos. Passamos.

… cansou de escrever poemas pra uma vida que não rimava com nada, que não prestava pra nada e que faltamente só rumava escada abaixo pro porão e arrumava um pretexto pra desarrumar seu coração. Sol entre frestas, sinos e sons de carnaval, poeira, rabiscos, discos riscados, destinos conhecidos, copos quebrados, corpos suados, final revelado: amor velado. Novela, o carvão e a tela trincada, pergaminho manchado de nanquim: nada ficou de você em mim – além dos endereços dos bares e dos lares em que vivemos [jun-tos]. Não faz mal.
Fique sabendo que eu tô legal.
Foi sem querer.
Eu me apaixonei.
Chorei… Sorrí… Mas eu nunca menti.
Insensatez.
Janeiro terminou assim: pisou no chiclete, esqueceu aniversários, boletos; perdeu chaves, juízo e assim abriu portas tortas pra desbravar caminhos certos. De certo, n’alguma vez na vida estava certo: tem mesmo é que perder o juízo e dar prejuízo pro tempo, pra ele passar mais lento e cada minuto durar mais – ralentar os ponteiros, ramelar com a saudade e não estender as vontades do peito e ajeitar um jeito de re-a-li-zar. Nem sempre a alma entende o corpo; coração não é metrônomo e a cabeça não é batuta – e nesse dueto de embate a luta deixa biruta tudo de bom que vagueia por aí. Janeiro. Rabiscou poesias em partituras e a vida dura forjou reis sábios e reinos fortalecidos na sua alma. Calma. Não tem mais tanta pressa [o tempo entregou uma pausa]. Acalma a alma de chiclele nesse jeito de moleque e sonha. Vai buscar janeiros…

Idas e vindas; passagens, partidas… A imensidão do mar não é tão grande e forte como Deus. Pronfundo, intenso, imenso, é Ele que cura nossas feridas e apaga as nossas dores, assim como o mar, o vento, fazem com as marcas que deixamos na areia… Fica o cheiro de mar, o sal e o sol na pele e uma vontade de sempre voltar… Volta.