omo um rio que mora no mar, suas melodias se aprofundam e se dissipam no peito de quem passa com pressa diante da sua dor de aluguel, de paixão de papel queimando no calor dessa cidade, onde persiste o amor. Desilusão – ou má sorte. Ele persiste e permite até certa solidão naquele lugar por onde todo mundo só passa. Alguns trocos, sorrisos, acenos… Ninguém fala do amor dele ecoando em músicas, mas alguns poucos sentem. No compasso de passos ansiosos e perdidos, no pulso de corações feridos e cansados, nas conversas cheias de pausas longas e tediosas, todo mundo passa, ouve e sabe: existe amor. Sim, ainda persiste o amor. Mais um trocado, uma moça bonita observa de lado e sorri. Chapéu no chão, coração na mão. Da capo.
Mês: março 2016
Inconsequentemente, procurou pela cidade algo que naquele momento só podia estar em seu coração. Gritou e esperou por uma resposta. Era só mais um dia de chuva e vento, chato, lento, de lamento e silêncios meio a buzinas e retinas cheias de luzes de faróis. Uma resposta e só – acabaria o lamento, tormento para a sua vaidade numa cidade sem idade, de poucos amigos, poucas verdades e um gosto de paz. Um lamento, uma resposta; era essa a sua aposta… E só.
Deus sabe até que ponto pode provar uma alma – e Ele nunca vai além disso. Ele sabia disso e provava. Por isso, do seu jeito, no seu momento, no seu lugar, rezava todos os dias. Mesmo sem palavras, sem pedidos, mesmo sem entender… Essa era a sua verdade, na medida e no ritmo que confortava o seu coração.
É só mais um trem para levá-lo a qualquer lugar – poderia ser um navio mercante ou um camelo. Já não tem mais perguntas sem respostas porque aprendeu que não precisa ter. Tão clandestinamente como civil que embarca num navio mercante ou turista japonês que passeia de camelo vive a vida sem credenciais e só com alguns poucos mapas e uma gaita. Quer conhecer diversos lugares e o que precisa cabe na sua mochila. Aprendeu muito em todas as vezes que se perdeu pelos caminhos e assim descobriu que tem duas respostas para tudo – e que elas se cruzam como encruzilhada: o tempo…
… e o foda-se.