O necessário e um pouco mais.

Categoria: Poesia Page 1 of 2

O Cordel de Maria São Pedro

Lá no alto do morrão,
Ao fim da rua estreita,
Da Bahia de axé quente
Vive a preta mais valente,
Mora a dona do cordão.
Com seus mais de oitenta e tantos,
Vive arrumando quebrantos,
Alimentando confusão.

Dona Maria, preta e feita,
Com a vassoura e com fé,
Sobe em laje, varre folhas
Cantando e louvando em paz.
— “Mãe, desce daí, mulher!”
Mas ela não volta atrás.
Quer folhas secas e chuchu
Só pra acabar com a paz!

Filha chora, neto reza:
— “Vou filmar pro mundo ver!”
Ela não é preguiçosa,
Forte, ligeira e de fé.
Foi de escada em escada,
Na incansável jornada,
Subindo predestinada
Pra lavar o chão do céu.

Agora ri da comoção
Que deixou no coração
Da família em oração.
Pra Maria de São Pedro
Só ficar aqui no chão,
De onde não tire o pé —
Firme e forte como a fé.
Mais teimosa que o trovão,

Voa mais que avião!
Com seus anos bem contados
E os passos acelerados,
Pra domingo ir na igreja
Com vestido e véu rendado,
Achar tudo engraçado
E cantar hino afinado.
Se eu cair, Deus me levanta!”

E lá vai ela louvando
Uma ladainha santa
E gente se apavorando,
Filha liga pra dar bronca,
Neto liga pra emergência,
E todos numa só crença:
Para logo com essa encrenca!
Mas ela não tá nem aí!

Maria em cima da laje,
Faz o mundo ser o chão:
O joelho nem estala,
A coluna ainda suporta
E Maria diz sorrindo:
Subo em nome de Jesus
E daqui não saio,
Aqui eu não caio, não!

Ei, Maria, ouça aqui
Eu também vou subir aí
E não é por desagravo,
Nem falo por arrogado,
Mas fico bem preocupado.
Nosso Deus é milagroso,
Mas é muito perigoso
Ficar tão perto do céu!

Varreu quintal, varreu rua,
Agora fica na sua,
Ou vamos no delegado
Dar parte da tua conduta:
Tua luta é muito nobre,
Tua história é tão bonita,
Então, sai dessa berlinda
E só fica aqui no chão,

Desce na paz, não sobe mais
Ora, vigia e descansa
As folhas o vento leva,
O chuchu compra na feira.
A sua vida linda derradeira
Essa vida não se leva,
Esse amor não se compra!
Então, Maria, não apronta!

Beijo

– Ela não vai lembrar.

– Ela não vai esquecer.

Dilema

Mil cenas de cinema em nosso beijo
Um roteiro ensaiado num olhar
O tema desta noite é só o desejo

O suor que cola a gente nos lençois
E as lágrimas molham e desatam nós

Que pena…
O nosso amor virou dilema
Acho que ainda vale a pena
Mas não me pede pra ficar…

Te amo…
Não esqueci os nossos planos
Mas sonhei tantos desenganos
Já quero mais voltar…

dilema

substantivo masculino

1.
filosofia
raciocínio que parte de premissas contraditórias e mutuamente excludentes, mas que paradoxalmente terminam por fundamentar uma mesma conclusão [Em um dilema, ocorre a necessidade de uma escolha entre alternativas opostas A e B, que resultará em uma conclusão ou consequência C, que deriva necessariamente tanto de A quanto de B.].

2.
necessidade de escolher entre duas saídas contraditórias e igualmente insatisfatórias.

Origem
⊙ ETIM(1679) grego díllemma,atos 'dilema, argumento pelo qual se coloca uma alternativa entre duas proposições contrárias', pelo latim dilemma,ătis

chegou atrasada
a minha vida toda errada
caminhos errantes
dois novos amantes
sons na madrugada

cantando alegrias
pra essas vidas tão vazias
sorrisos distantes
não há nada que me encante
muito mais que o teu olhar

não
não vai embora
não

fica
mas
não
fica assim comigo
não
só no meu coração
não
vai
não

não
não vai embora
não

me diz o que eu fiz
eu só tentei ser feliz
eu, só, tentei ser feliz

ah
se esta tudo errado
coração escancarado
ficou mal acostumado
esperando te esperar
procurando seu olhar

ah
o seu cheiro
o seu corpo
o seu gosto
o seu rosto
o seu olhar

saiu
apressada
muito fria
à madruda

me diz o que eu fiz
eu só tentei ser feliz
eu, só, tentei ser feliz

Penumbra

[R]
Como esconder o sol?
Ele é maior que o mar!
Como afogar uma dor
Que queima como sol?

[P]
Traz umas cervejas
Cartas sobre mesa
Vamos conversar…

[A]
A luz do teu olhar profundo
Iluminou universos e versos
Em um coração vagabundo
Entre mundos e metaversos
Busquei seus lábios…

[B]
À luz do teu olhar um mundo
Revelou discretos e incertos
Numa oração de moribumbo
Entre o fundo e os perversos
Dissecando os sábios…

[C]
Basta de olhares sem beijos
Na minha oração é vale tudo
Tesão e comunhão no fundo
Como mar talhando o mundo

Você foi fundo
Sem um vacilo
Sem descuido
Amou em tudo

[E]
Você mudou muito em mim
E tirou me um breu sem fim
Sinto a paz e o amor enfim

A luz pára a sombra
E não me assombra
A vida me dizer sim

Universo

[R]
Se tudo acontece nesse mundo
passa num segundo no teu olhar

[A]
Senti frio
Um vazio
E arrepio
Por amar

[B]
Calafrios
Um vadio
Como rio
Abre mar

[P]
Mil estrelas
Mil estradas
Mil entradas
Uma amada

Diário

Slow sad blues rock in minor

[A]
volto mais tarde
diz pra saudade
não me esperar

sei que é tarde
mas na verdade
eu queria ficar

[B]
vou sem alarde
fica a vontade
podes chorar

talvez eu guarde
a nossa viagem
pra te encontrar

[R]
eu rabisquei seu nome
num pedaço de papel
era pra ser tatuagem
mil fotos numa viagem
o amor em vida é passagem

eu desenhei seu corpo
em lençois com vinho e mel
agora a sua imagem vai
e some como miragem
o amor em vida é passagem

[P]
eu escondi seu rosto
em percalços, medo e fel
eu busquei seu corpo
em mil lugares sob o céu

[E]
no meu diário, relicario
o seu corpo é paisagem
o seu rosto é miragem
o seu nome é viagem

eu quis gritar
quanto te amo
mas não consigo

no meu leito meu abrigo
o meu pleito, meu amigo
desse jeito não consigo
partir

só eu sei dessa dor
nas páginas que rasguei
só eu sei desse amor
nas páginas que rasguei
só eu sei…

Paz

A saudade entrega
Paz de primaveras
Um som de festa:
Cantam pescadores

A verdade presta
As de muitas eras
Um tom de pressa
Gritam nossas dores

Faz de conta que foi
Todo mal espera
O bom do amor
Curam nossas dores

Amores vem e vão
Fica o coração
Ficam fotos
Copos vazios
Abraços tardios
O sim foi em vão
O fim é um não

Enfim

É sobre jardins e navios; não sobre o amor

Flores não nascem na areia
Amores não resistem sem perdão
A força do mar está nas ondas;
A dor de amar, no coração…

Perdoa, é muito amor pra pouco (a)mar
Não nego não saber o dom do (a)mar

Dores são como grãos de areia
Abarcam mares com tanta paixão
O cheiro da flor está nas velas
Dos navios sem cais, na ilusão…

Perdoa, é muito amor pra pouco (a)mar
Navego sem saber o bom do (a)mar

Sinto… sofrer de amor não é o fim de tudo
Já cruzei mil mares até um fim do mundo
Já sorri diante de tantas maldades
O que é viver sem ter você?

Sinto… o meu mundo pode acabar agora
Já amei por muitas vidas nessa história
Já chorei demais de tanta felicidade
Vou cuidar do meu jardim…

Fim

Ainda é madrugada
Sigo a mesma estrada
Procurando uma festa
O vilão e o violão
Brincam e brigam
Pra falar da mesma dor

A saudade que ficou fez estrago

Já era a madrugada
Saio na mesma entrada
Vou catando o que me resta
A alma e a emoção
Cantam e dançam
Ao sentir o mesmo amor

A saudade que ficou fez estrago

Por que você não vem me achar?
Por que você não vem me buscar?
Por que você não vem me salvar?
Por que você nao vem me amar?
Por que?…

Eu fico rouco de gritar seu nome
Eu fico louco de buscar seu clone
Me reduzo, me recuso, me iludo…
Eu sou o fim da festa.

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