O necessário e um pouco mais.

Categoria: Contos Page 1 of 9

Canção

… a saudade poderia ser um final de domingo a tarde, mas caiu numa quarta, meio da semana mesmo, no meio do peito, sem jeito, sem pleito… A cidade quase querendo garoar sobre esses jardins cinzentos; outros quase querendo qualquer coisa pra se arrepender daqui a pouco. Doses, vozes, acordes, partituras que nunca serão escritas para musicar histórias que nunca serão lembradas. Saudade é fogo; amor, são cinzas – como a cidade. Saudades de lugares errantes, vaidade em sorrisos distantes… Mais um trago – e um cigarro. Já não liga para o troco, deixa para – quem sabe – uma próxima, ou ainda, de gorjeta pr’o garçom. Era muita tristeza para um só copo americado. Deu dó. E ele deu um dó menor pra cantar a saudade. Vaidade de poeta ou tristeza de profeta, passado e futuro, presente nas cordas do violão, nas cores de uma canção, nas dores de um coração pulsando em dó sustenido menor…
C#m

Labirintos

… rua nua, lua no chão brilhando no resto de chuva, pés no céu, num caminhar leve, de destino breve, feito de talvez para acontecer daqui a pouco: depois. Silenciosamente, passou mudo – em segundos – caminhou o mundo por labirintos, pensamentos densos, lentos, tensos, propensos a se tornarem verdades em palavras, loucuras em devaneios, emoções duras, dores sem cura, de deixar qualquer um louco por um cigarro, um trago, um afago – ou algo mais forte para lhe esquentar o peito e dar um jeito pelo menos uma vez naquele dia, naquela noite… Mais uma noite e nos segundos de relógios, açoites afoitos, na cadência do seu caminhar leve, breve… Depois era assim mesmo: cheio de vazios e caminhos. E um cigarro era pouco… Foi pouco, louco. Foi pouco. Foi…

Semana

… a cidade amanhece, cafés, atrasos, boletos, boletins, nãos e sins – pecados e milagres se misturam e se versam. Silhueta nas sombras, cornetas no silêncio, cometas no átrio entre solidões imensas e mais intensas. Sinais, faróis, girassóis e silêncios. Dia de semana sem gana, sem grana, sem fama, sem o que fazer pra trazer mais vida pra essa lida. Amanhecer na cidade e romper solidões como sol rompe as frestas da janelas de leitos vazios, sem dores, sem solidão… Dia de semana sem muito mais do que a janela para abrir e um resto de sol para entrar…

Mais

Lâmpadas elétricas – suspensas por um infinito de fios que se conectam. De onde vem a sua luz? A sua energia? Quais são as conexões que te dão força e luz? O nosso destino nós conduz por caminhos já escolhidos, dizem – mas ainda assim, é nossa a verdade de escolher por quais seguir e até onde e quando…e com quem… Pensando em cores e carnavais, temos, talvez, mais tempo para sermos mais e mais espaço para nós tornamos maiores e melhores. O tempo é um senhor aposentado ainda cheio das prioridades que nunca passam, sentando numa estação de trem observando um relógio gigante e as pessoas… passando O tempo que acendemos a luz da sala, a alegria na fala que clama por mais… Mais. Mais. Mais. Mais tempo para fazer coisas que, parecem-nos,, nunca tivemos tempo para fazer, para estar, para ser…

Lâmpadas

… lua cheia, luz vazia, rua fria em pleno calor. Primaveras se repetem em músicas do Tim – porque o melhor do amor é o que fica depois do fim: o próprio. As dores do mundo não cessam – e para algumas não há remédio além do tédio de esperar. Esperar… A vida, essa playlist cheia de alma – se acalma; amores e mares também e refletem as luzes… Estrelas, lâmpadas elétricas suspensas pelo infinito – e numa lágrima improvisada cabe um milhão de histórias em órbita da lua… Ah, a lua… A lua e eu…

Canção

… com quem fica o coração? Quem afina o violão? Quem é o vilão? Ninguém. É só você mesmo contra a sua própria sombra – e as sobras de futuros esquecidos, sucumbidos por passados que não passaram, que não passam, que não cessam… Deixa estar. Vai caminhar e ver o dia passar diferente – como se estivesse emoldurado pela janela de um trem que só anda sobre os trilhos. Viagem leve e tranquila mesmo com atritos de ferros. Deixar estar e vai ver o dia entardecer a mente e amolecer o corpo, derretendo geleiras de fel e solidão – como se o calor já não forjasse espadas para fincar nos campos de batalha da alma. Deixa estar e vai ver a vida passando, passando, como coletivo rumo ao um infinito onde espelhos refletem a luz que há em você e iluminam o túnel e o alento pro espírito. Deixa estar e sente que os lamentos saíram das garrafas e se dissiparam nos mares por onde bate o sol. Deixa estar e vai tentar alguma coisa nova pra fazer a vida nova de novo – pode começar com um ovo mexido no pão com café levado ao pé da cama, com cheiro de manhã de maçãs, que inflama e ninguém mais lembra ou reclama da lama que teve que varrer do coração… Estranha – e linda – terça-feira a maneira como o sol abraçou meu violão. Cordas novas: tensão. Sorte nova: tesão. Nem moço ou vilão, farol costeiro. Forasteiro de emoções sem data de validade… Deixa estar. Deixa estar…

Vida

Domingo elegante, caminhar leve, passos firmes. Alma de gigante como rios das vistas desaguando em oceanos no coração. O som da sombra remetia à uma certa cadência das malemolências de um passado destemido das maledicências do mundo surdo. Por isso, já foi ao fundo do poço umas poucas vezes – e chegou até soltar a corda e se esquecer dos caminhos de volta. Mas quando acorda, olha pro alto, sente a luz, agarra nuns fiapos de corda e escala… Quando saiu de lá provou do mais pronfundo amor. Tinha talhado com as próprias mãos o presente futuro em que teve coragem e disposição para se dar vários presentes e estar presente onde e quando lhe fizesse sorrir. Tinha ainda talhado nas mãos histórias que escreveu a sangue e suor, pois foi assim que regou os frutos sagrados do trabalho. Pés e espíritos cansados demais para uma mente sã, mas naquela altura já podia suportar muito mais do que sua fé era capaz de transformar. Tarde vã, de manhã sem café – ou cachaça – pro santo, só queria mesmo caminhar pelas ruas sem pensar tanto nas dores da vida. Acordou sorrindo pensando nas delícias da vida, fez um bom café – quente, gostoso, cheiroso, como uma boa mulher -, vestiu o seu melhor terno e saiu por aí pra encontrar uma bela e jovem donzela que cortejada todos os dias… a vida.

Presente

… uma simples fotografia. Domingo. Tulipas. O próximo quadro que irei pintar ou, talvez, um poema… Inspiração é a fonte pra respiração em tempos em que o que mais precisamos é respirar… Respirar … Respiramos e diariamente buscamos fontes de inspiração para as coisas… Agora, precisamos inspirar… e se inspirar… Começa a fotografar – pode ser com o celular mesmo… ah, e em preto e branco também, por favor. Pinta um quadro – ou as paredes de casa… Escreva uma carta pra alguém, pra você mesmo e abra daqui um tempo num futuro menos ansioso em dias mais presentes. Dê presentes. Esteja presente. Seja um presente… um presente de Deus! Agradeça por cada dia frio de chega e igualmente pelos dias de sol e suor. Aprenda com a solidão, descubra a solitude. Aceite que você pode ser tão especial a ponto de nem se ligar em tudo que poder ser e fazer… Seja um poema de domingo pra alguém. Tenha fé na grandeza das pequenas coisas da vida. A felicidade é simples. E viver é ter a dádiva de a cada dia poder inspirar… Respirar…

(In)descritível

… fé. Não tinha mais desculpas que sustentassem a falta de tempo para ter um momento para refletir sobre as coisas que realmente importam na vida. A lida consumiu os dias coloridos. Os dias ficaram estranhos e sem cor, sem brisa, sem som… Existia, porém, uma força indescritível, capaz de quebrar e desfazer a mais rochosa das montanhas, de acalmar mares revoltos, apagar florestas em chamas e acalentar os ânimos vazios gritando por socorro… O mundo não precisava saber da sua dor, mas necessitava do seu amor, da sua paz, da sua capacidade de transformar o cinza em cor – e das cinzas flanar o fogo para aquecer corações com frio, com medo, pesados em pranto… Não sabia como e mesmo assim foi lá e fez. Estava mesmo desafortunado a acreditar no que não podia ver ou tocar. Podia sentir que as mil fúrias que assolaram e dilaceram tudo em que acreditava, já tinham passado… Sentiu uma brisa leve, suave, doce… Sentiu um medo bom diante da grandeza do que voltava a reconhecer – e novamente uma força indescritível que o fez sucumbir às próprias verdades, cerrar os olhos e sussurrar para sua alma… … Pai Nosso que estais no Céus…

Espera

… pausas. Precisamos de uma pausa pro café, para aquela viagem de trem… Apertar o “pause” nessa coisa Netflix que se tornou a nossa vida e correr até a cozinha para fazer uma pipoca ou colocar a mochila nas costas e correr atrás da viagem de trem, começar a aprender mais uma língua, um instrumento, um momento pra sentir o coração batendo no meio da bateria de uma escola de samba e respirar bem fundo no topo da montanha… Res-pi-rar e sentir o cheiro bom do café quente e das manhãs… Pausa. Deixa pra amanhã a dor. Hoje, agora, por hora, basta um café e um naco de queijo, um abraço e um sorriso de sol, uma lágrima com gosto de sal no meio de um beijo… E basta.

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