… é sobre seguir. Seguir em frente mesmo que a alma lamente as dores que causou para o coração. Seguir adiante mesmo que o corpo cansado já não responda mais à força da mente clamando a todo instante por superação. Uma estranha quarta-feira: a maneira como o sol abraçou seu violão, o seu olhar de desgosto, um gosto de mel e adeus no céu da boca, de saudade doce e louca, de voz rouca de gritos contidos, de quem berra dentro de um saco, de ferimentos remidos de memórias de amar, de cheiro de mar, de calor de sombras, de um jeito de olhar e não ver a vida acontecendo de forma tão ruim… Enfim, foi assim, de maneira estranha que em suas entranhas brotou um ódio sutil e repentino, que transformou o seu olhar de menino em aço vil, mas que sucumbiu à pena da sua própria dor logo nas primeiras lagrimas. Não foi sorte, nem descuido; foi, sim, um sacrifício de tentar e, talvez – quem sabe -, uma certa loucura de acreditar nos sentidos… do amor? Dor não tem valor. Não existe para quem não sente, nem para que a causa. De certo, já não sabia mais o que fazer. Era um luto silencioso e invisível só seu, duma quarta-feira de cinzas sem carnaval. Só vagou por entre ruas cinzas sem confetes em busca de almas em flor – porque no fundo ainda sentia que existiria amor ou um arco-íris e ouro. Toda a maratona é solitária para esses atletas das emoções. Buzinas, pressa sem destino, olhar e coração de menino esquecidos na gaveta, entre rascunhos a lápis… Não deu. Não deu, pensou. Doeu. Doeu – e ainda doi -, sentiu. Vai passar, sorriu. A vida não era mesmo para ser tão bonita assim. Atravessou a rua e se foi, carregando universos dentro de sí, mesmo se sentindo um grão… Quarta-feira, meio da semana, precisava continuar… Seguiu.