… quando o farol abriu, o coração dele acelerou ao ver ela atravessar a faixa até o outro lado da rua, até um ponto cada vez mais longe, até um outro lado do mundo, até perder de vista, até esquecer o telefone, o cheiro do cabelo, as gargalhadas… Titubeou em levantar e correr atrás dela, pegar pelo braço, olhar num enlaço, pedir pra ficar, beijar… Dava tempo – sempre dá. Limitou-se a sinalizar para o garçom que prontamente entendeu o que ele queria: amor. No entanto, naquele momento ele só tinha umas doses para anestesiar a dor da perda. Um trago, um cigarro….
– Essa noite vai ser longa pra caralho, pensou. Não chorou, mas sofreu – e como sofreu. Bebeu, engolindo o choro a moda cowboy, sem gelo. Saideira. Quem fica com a conta dessa culpa? Quem paga a gorjeta da desculpa? E o que vamos dizer para o garçom?
Mês: janeiro 2017
Não era pecado algum sentir cansaço. Alí tinha um coração improvisando batidas em impulsos de lamentos. Reclamou, chorou e gritou por tudo que aconteceu… Passou. Coisas boas e ruins aconteceram; aceitou as duas. Arquivou tudo e a lição mais importante deixou numa gaveta mais próxima: não era preciso muito para viver feliz. A vida dura era amortecida pelo coração mole e a alma de algodão. A esperança – essa ou uma outra droga alucinógena – tinha voltado e desacelerava, como trem na estação… Embarque. Lá, doutro lado, contrário, vinha ralentando a decepção, cheio de gente acostumada a aceitar um desembalo, um acalanto triste… Nem quis saber. Seguiu rumo a esperança…