Tinha medo de avião e um violão que ajudava a contar sobre o amor e outras histórias. Tinha medo de avião, mas não do amor – ele achava engraçado uma geringonça pesada planar como pluma no ar. E assim se sentia: leve, a cada toque… Nunca foi amigo de muitos – nem da onça -, mas tinha amores a rodo, ao todo o suficiente para se sentir contente, pois a vida não passou em branco, não foi só pranto, tinha calor e cor. Um canto, o canto, o violão, um banco, um lugar o esperava para ele chegar e cantar. Colecionava algumas decepções que se tornaram músicas engavetadas no tempo, no compasso do seu coração cheio de lapsos. Extravasava as paixões que deixaram boas lembranças e sempre pensava: eu posso pensar que eu posso voar num grande avião que possa me levar pra dentro do seu – grande – coração… E fazia isso cada vez que pegava o violão e cantava… Poderia ter ido até ela, mas não. Foi por medo de avião, não do amor.