Cheiro de chuva de fim de tarde. Arde a chapa e esconde a agradável essência do café… Sabe como é: segunda-feira, incêndio, remorsos, fotos, café ou cerveja nas mesas já revestidos de feriado e cada um já sabe o seu lado. Ela escreve – poesia? – e ouve Nirvana; a outra fala sobre o dia, os planos de final de ano, as promessas de emagrecer, eliminar matérias, limar gente que não que presta da lista telefônica, namorar ou se aventurar a ter um bicho de estimação no apartamento – a mesma coisa. Café esfria, cerveja esquenta, muita conversa de gente que só lamenta. Uns beijos, uma porção de queijo, trânsito, chuva, calor e alguém passa cantando Cazuza. Daqui a pouco já é Ano Novo de novo. O tempo não pára – não pára, não.
Mês: dezembro 2015

O menino na selva de pedra, olhando pro céu como quem caça pipas, inerte diante da massa movediça de carros da rodovia. Que agonia é ter que dividir o seu quintal com tanta gente louca, sempre apressada, que passa, acelera, fecha de pirraça, transita – ou parasita – por alí sem nem perceber o menino brincar, sem nem aceitar que o tempo passou, que já foi criança, que na lembrança não tem pião, bola de gude ou rolimã… Segunda, fim de tarde, um menino, pipas no céu, pés no chão… Lá vai – lá doutro lado – um homem, um coração na mão…